Jack Cottrell

 

PERGUNTA: Se Jesus é parte da Divindade, ou seja, se ele é a encarnação da segunda pessoa da Trindade, por que ele não sabia as datas e horas sugeridas em Mt 24.36 e Mc 13.32?

 

RESPOSTA: Mt 24.36 fala sobre o dia da segunda vinda: “Mas daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, mas unicamente meu Pai.” Mc 13.32 é a passagem paralela afirmando a mesma coisa. Aqui é dito especificamente que Deus Filho, em seu estado encarnado, não sabia o tempo deste evento histórico futuro específico. O fato de que Deus é onisciente, entretanto, significa que seu conhecimento é infinito ou ilimitado. Ele sabe tudo, incluindo todos os detalhes do futuro de sua criação. Este último é chamado de seu pré-conhecimento. Deus é onisciente por natureza, ele não pode NÃO saber tudo, incluindo o futuro. Será que isso significa, então, que Jesus não é divino?

 

Aqui é importante distinguir entre o conteúdo do conhecimento como tal e a própria consciência das coisas que ele conhece. Deus não apenas sabe tudo; ele está sempre consciente de tudo o que ele sabe. Não somente o conteúdo de seu conhecimento é todo-inclusivo, mas também todos esses dados estão constantemente em primeiro plano em sua consciência. Deus não tem “subconsciência,” por assim dizer. Aqui está uma grande diferença entre Deus e todas as pessoas criadas, incluindo os anjos e os seres humanos. Nós, como criaturas, somos por natureza finitos ou limitados; isto se aplica ao nosso conhecimento. Nenhum ser humano é onisciente ou sabe tudo. Até mesmo os seres humanos mais brilhantes e instruídos conhecem uma quantidade limitada ou finita de fatos. Mas há outra maneira na qual o nosso conhecimento é finito, a saber, somos na verdade plenamente conscientes de apenas uma coisa de cada vez (ou talvez duas). Tudo o que sabemos é guardado em nossos “bancos de memória;” o que estamos na verdade pensando em um determinado momento é dependente de nossas circunstâncias. O que isso significa?

 

Em primeiro lugar, o conteúdo de nossa consciência é por vezes determinado pelos dados sendo alimentados em nosso cérebro através de nossos sentidos físicos. Isto é, estamos pensando em uma determinada canção porque é o que está no rádio ou tocando em nosso ipod no momento. Na maioria das vezes, no entanto, estamos pensando em uma coisa em particular porque queremos fazer assim. Isso é parte do que queremos dizer com memória. Quando “lembramos” alguma coisa, estamos desejando que ela se eleve de nosso depósito de dados subconsciente para a nossa consciência. A maioria das coisas que “sabemos” está na verdade guardada dessa forma, à espera de algum tipo de estímulo – tal como um ato da vontade – para trazê-las ao nível do pensamento consciente. Por exemplo, eu posso lhe fazer uma pergunta agora mesmo para a qual a resposta é algo que você sem dúvida sabe no nível subconsciente, mas que você pode na verdade não ter pensado a respeito por meses ou anos. Aí vai ela: Qual é o nome de solteira de sua mãe? Ou, qual é o nome de solteira de sua sogra? Este é o tipo de dado que podemos geralmente apenas desejá-lo em nossa consciência. Tal ato da vontade é o que usamos quando estamos fazendo um exame final – embora isso nem sempre funcione! Esse é outro exemplo da finitude do nosso conhecimento, é claro.

 

Esta distinção entre a consciência constante e completa de Deus de todas as coisas, e a limitação humana de ser consciente de apenas uma coisa de cada vez, ajuda a explicar o que Jesus disse sobre sua falta de conhecimento do tempo da segunda vinda. Nós nunca vamos entender completamente tudo o que esteve envolvido na encarnação de Deus Filho como o Deus-homem, Jesus de Nazaré, mas sabemos que o exercício de alguns de seus atributos divinos se tornou limitado por esse evento (Fl 2.6-7). Ele não foi na verdade despojado de quaisquer desses atributos, mas voluntariamente renunciou ao uso pleno deles neste estado encarnado. Isto obviamente incluía a sua onisciência.

 

Mas como Jesus poderia, se ele era verdadeiramente Deus, NÃO ser onisciente? A resposta possivelmente está na distinção entre a consciência divina e a consciência humana, como explicado acima. Minha especulação é que um dos resultados da encarnação foi que a consciência de Jesus estava limitada como a de qualquer ser humano, visto que ele só pensava em uma coisa de cada vez, com a opção de alterar o conteúdo de sua consciência conforme ele assim o desejasse. É claro que, sendo Deus e, portanto onisciente, seu conhecimento ainda era infinito, no sentido de que Ele tinha dados infinitos armazenados em seus “bancos de memória,” por assim dizer. Assim ele tinha todo o conhecimento ao seu comando e podia desejá-lo em sua consciência sempre que assim o quisesse. Por exemplo, ele poderia conhecer o conteúdo do coração de qualquer um (Mc 2.8) e poderia saber o futuro quando escolhesse assim fazê-lo (Jo 13.21, 38).

 

Mas havia pelo menos uma coisa que Jesus escolheu NÃO desejá-lo em sua consciência, a saber, o tempo de sua segunda vinda. Isso aconteceu, sem dúvida alguma, intencionalmente e é importante que fôssemos informados desta limitação. Quando Jesus disse que não sabia o tempo do fim, e que ninguém senão o Pai sabia, isso significa que é inútil buscar nos Evangelhos mensagens ocultas sobre quando esse fim virá. Deus não quer que saibamos desse detalhe, porque Ele quer que estejamos, a cada momento, preparados para Ele.

http://www.facebook.com/notes/jack-cottrell/if-jesus-is-god-why-did-he-not-know-the-time-of-his-second-coming/10150110704530617

Tradução: Cloves Rocha dos Santos

Revisão: Magno Aquino