Porque Deus Não Salva a Todos?

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Analisando a Resposta de John Piper para o Problemacalvario.jpeg

John Piper acredita que Deus quer que todos os homens sem exceção sejam salvos. Diferentemente de seus colegas calvinistas, ele não faz nenhum esforço para tentar minimizar a força de versículos como Ez 18.23, 1Tm 2.4 e 2Pe 3.9, que afirmam o desejo divino de salvação universal. Além disso, ele defende que a graça é irresistível, ou seja, que ela finalmente triunfará sobre a resistência daqueles que Deus quer salvar. Disso surge o problema: por que Deus não salva a todos? Piper conclui que Deus deve valorizar algo mais do que a salvação de todos.

 “A resposta dada pelos calvinistas é que o valor maior é a manifestação de toda a gama da glória de Deus em ira e misericórdia (Rm 9.22-23) e a humilhação do homem de forma que ele possa dar todo o crédito a Deus pela sua salvação (1Co 1.29).”

 A resposta é engenhosa, mas ela não está livre de alguns problemas.

 1 – Os versículos apresentados (Rm 9.22-23) por Piper não estão dizendo isso. Eles de fato afirmam que Deus tanto quis mostrar a sua ira sobre alguns quanto a sua misericórdia sobre outros, mas isso não como resultado de um suposto dilema que Deus teria enfrentado na eternidade de salvar a todos ou manifestar “toda a gama da glória de Deus em ira e misericórdia”.

 2 – A ira e a misericórdia de Deus foram manifestadas, em seu grau máximo, na cruz de Cristo, de forma que escolher alguns para a perdição eterna não faria a glória de Deus brilhar mais intensamente do que ela já foi. Se Deus alguma vez enfrentou esse dilema, ele poderia muito bem ter resolvido mostrando toda a gama de sua glória na cruz de Cristo e ainda assim decidido salvar a todos.

 Para o próximo problema ficar ainda mais claro, é interessante citar Jonathan Edwards, um dos teólogos mais admirados por John Piper:

 “Assim o mal é necessário para a glória de Deus ser perfeitamente e completamente demonstrada. É também necessário para a mais elevada felicidade da humanidade, porque nossa felicidade consiste no conhecimento de Deus e na percepção de seu amor. E se o conhecimento de Deus é imperfeito (por causa de uma demonstração desproporcional de seus atributos), a felicidade da criatura deve ser proporcionalmente imperfeita.”

 3) O terceiro – e mais grave – problema na resposta de John Piper é que, se verdadeira, ela nos leva à conclusão que Deus precisa do pecado e do mal. Segundo Edwards e Piper, Deus precisa do pecado e do mal para mostrar-se glorioso perfeita e completamente e para a mais elevada felicidade da humanidade (com exceção daqueles que sofrerão eternamente, presumo).

 Há muitas afirmações não provadas nessa pequena citação de Edwards. São elas:

 – Um universo com pecado (e todas as desgraças resultantes) torna Deus mais glorioso do que um sem pecado.

 – Deus não conseguiria revelar-se como ele é a não ser que houvesse pecado.

 – É preciso haver uma demonstração de todos os atributos de Deus para o conhecimento, e consequentemente a felicidade, da humanidade ser perfeito.

 Sobre todas essas afirmações, é de se questionar se antes do pecado ter invadido a criação, Deus era menos glorioso, impossível de ser conhecido e as criaturas eram menos felizes. Enquanto essas afirmações não forem provadas, não podemos ingenuamente aceitar uma resposta que carrega consigo a trágica conclusão que Deus precisa do pecado para revelar quem ele é e levar felicidade para as suas criaturas.

Paulo Cesar Antunes

_________________________________________________ fonte: http://www.arminianismo.com

O Amor de Deus É Limitado aos Eleitos?

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Refutando um Desafio Calvinista ao Evangelho

Roger E. Olsonroger olson - arminius hoje

A doutrina da expiação limitada é provavelmente o mais calorosamente debatido dos cinco pontos do Calvinismo entre os evangélicos. Ele é também o calcanhar de Aquiles do Calvinismo; sem ele os outros pontos caem.

 O recente renascimento do Calvinismo entre os evangélicos trouxe à tona a questão da extensão da morte expiatória de Cristo na cruz. Muitos cristãos evangélicos simplesmente assumem que Cristo morreu por todos – que Ele carregou os pecados e sofreu a penalidade por cada pecador. Pelos últimos quatro séculos, entretanto, tem havido uma representação minoritária entre os protestantes. A maioria dos calvinistas, seguidores do reformador francês da Suíça, João Calvino (1509-1564), têm ensinado que Cristo suportou a penalidade somente pelos pecados dos eleitos – aqueles incondicionalmente predestinados por Deus para a salvação. Calvinistas contemporâneos (eles muitas vezes preferem ser chamados de cristãos reformados) chamam esta doutrina de “redenção particular” ou “expiação definida.”

 Entre os defensores evangélicos contemporâneos da expiação limitada estão, mais notavelmente, R. C. Sproul e John Piper. Sproul (nascido em 1939) tem sido um influente apologista evangélico e teólogo reformado por grande parte da última metade do século 20. De sua base em seu Ministério Ligonier ele tem falado no rádio, viajado para discursar em muitas conferências teológicas e apologéticas e escreveu muitos livros – a maioria deles tratando da soberania de Deus a partir de uma perspectiva fortemente reformada.

 Piper (nascido em 1946), pastor de Igreja Batista Bethlehem de Minneapolis, e fundador do Ministério Desiring God, também viaja muito e discursa em grandes encontros de cristãos evangélicos – incluindo as conferências Passionfrequentadas por milhares da maioria dos jovens e adolescentes batistas do sul. Ele é um prolífico autor cujos livros, incluindo Desiring God: Confessions of a Christian Hedonist (1986), têm vendido milhões de cópias. Como Sproul, Piper é um promotor apaixonado do Calvinismo de cinco pontos.

 CALVINISMO DE CINCO PONTOS

 O Calvinismo de cinco pontos é a crença nas doutrinas representadas pelo acróstico TULIP: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos. Os calvinistas criaram o acróstico por volta de 1913, mas as “doutrinas da graça” que ele representa remontam ao sucessor de Calvino – Teodoro Beza (1519-1605) – diretor da Academia de Genebra (um seminário reformado em Genebra, Suíça, fundado por Calvino). A expiação limitada se encontra no centro deste sistema teológico. Sproul, Piper e muitos outros teólogos evangélicos contemporâneos influentes tenazmente mantêm e defendem esta posição.

 EXPIAÇÃO LIMITADA

 O que a expiação limitada ou redenção particular significa? De acordo com Sproul, que prefere chamar essa doutrina de “expiação designada,” ela significa que Deus pretendeu que a morte de Cristo na cruz assegurasse a salvação de um número definido de seres humanos caídos – aqueles escolhidos incondicionalmente por Deus. Como outros calvinistas, Sproul argumenta que a morte substitutiva de Cristo (isto é, Deus impôs sobre Cristo a penalidade pelos pecados merecida pelos pecadores) foi de valor suficiente para salvar a todos, mas Deus apenas pretendeu que ela salvasse os eleitos. No sentido mais significante, Cristo morreu apenas pelos eleitos e não por todos.

 Para Sproul (e outros como ele), esta doutrina não é dispensável; ela é parte essencial do sistema TULIP que eles creem ser a única que faz justiça à soberania de Deus e à natureza do dom da salvação. Um argumento usado por Sproul, seguindo o teólogo puritano John Owen (1616-1683), é que, se Cristo morreu por todos igualmente, então todos são salvos. Afinal, como segue o argumento, seria injustiça de Deus punir os mesmos pecados duas vezes – uma vez impondo a penalidade sobre Cristo e outra vez ao enviar o pecador para o inferno.

 Piper é igualmente apaixonado pela expiação limitada. Como Sproul, ele não a considera um ponto secundário da teologia. Em um artigo intitulado “For Whom Did Christ Die and What Did Christ Actually Achieve on the Cross for Those for Whom He Died?[1]Piper argumenta que não é o calvinista que limita a expiação, mas o não-calvinista que crê na expiação universal. A razão: Aqueles que creem na expiação universal devem dizer que a morte de Cristo na verdade não salvou ninguém, mas somente deu às pessoas a oportunidade de salvarem a si mesmas. Ou eles devem abraçar o universalismo.

 Piper continua e argumenta que Cristo de fato morreu por todas as pessoas, mas não da mesma maneira. Todas as pessoas se beneficiam da morte de Cristo, por exemplo, recebendo certas bênçãos nesta vida que eles de outra forma não receberiam – mas somente os eleitos recebem dela o benefício da salvação.

 Esta doutrina da expiação limitada é provavelmente o mais calorosamente debatido dos cinco pontos do Calvinismo entre os evangélicos. O teólogo evangélico Vernon Grounds, ex-presidente do Seminário Denver, atacou severamente a doutrina. Apontando para Jo 1.29; Rm 5.17-21; 11.32; 1Tm 2.6; Hb 2.9; e 1Jo 2.2, ele escreveu, “É preciso uma engenhosidade exegética que é outra coisa menos uma habilidade culta esvaziar estes textos de seu significado óbvio: é preciso uma engenhosidade exegética próxima de um sofisma negar sua explícita universalidade.”[2]É desnecessário dizer, muitos evangélicos, incluindo alguns calvinistas, acham essa doutrina repugnante.

 BASE PARA A EXPIAÇÃO LIMITADA

 Antes de explicar por que esta doutrina é repulsiva, será proveitoso ver as razões por que muitos calvinistas a têm em alta conta e a promovem tão apaixonadamente. Mais uma vez, o que é esta doutrina? É que Deus pretendeu que a morte de Jesus na cruz fosse uma propiciação (um sacrifício expiatório, substitutivo) apenas pelos pecados dos eleitos – aqueles que Deus escolheu salvar à parte de qualquer coisa que Ele vê neles ou sobre eles (exceto Sua escolha dessas pessoas para a Sua glória e boa vontade).

 Por que alguém acreditaria nisso?

 Os proponentes da expiação limitada apontam várias Escrituras: Jo 10.15; 17.6 e versículos semelhantes em Jo 10-17; Rm 8.32; Ef 5.25-27; Tt 2.14.

 Os calvinistas usam Jo 10.15 para apoiar o seu ensino: “Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.” Muitos outros versículos em João dizem quase a mesma coisa – que Cristo deu a Sua vida por Suas ovelhas (isto é, Seus discípulos e todos os que viriam depois deles).

 Os calvinistas também apontam Rm 8.32: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” Eles supõem que “todos nós” faz referência aos eleitos.

 Ef 5.25-27 diz, “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” Os calvinistas creem que esta passagem, como muitas outras, se refere apenas à igreja como o objeto do sacrifício purificador de Cristo.

 Tt 2.14 diz: “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.” Os calvinistas acreditam que Paulo, o autor de Tito, parece restringir os benefícios salvadores da morte de Cristo ao “seu povo,” o que eles acreditam ser os eleitos.

 Os calvinistas assumem que estes versículos e outros como eles ensinam que Cristo morreu somente por aqueles escolhidos por Deus para a salvação. Mas estes versículos não ensinam as crenças calvinistas. Em nenhum lugar a Bíblia explicitamente ensina esta doutrina calvinista.

 Os calvinistas atribuem a estas passagens sua crença que Cristo morreu somente pela igreja, pelo Seu povo, por Suas ovelhas. Estes versículos não dizem que Cristo não morreu também pelos outros. E, como veremos, há muitas passagens que ensinam claramente que Cristo morreu por todos.

 Há outra razão para os calvinistas crerem na expiação limitada. Se Cristo morreu igualmente por todos, eles alegam, então todos são salvos. Eles argumentam que aqueles que creem na expiação universal se defrontam com duas opções inevitáveis, mas biblicamente insustentáveis: ou a morte de Cristo salvou a todos ou ela não salvou ninguém. Este argumento é, no entanto, falacioso. A expiação universal não requer a salvação universal; ela somente requer a possibilidade de salvação universal.

 É possível que os mesmos pecados sejam punidos duas vezes e é isso o que torna o inferno tão absolutamente trágico – ele é totalmente desnecessário. Deus pune com o inferno aqueles que rejeitam a substituição de Seu Filho. Uma analogia ajudará a tornar isto claro. Após a Guerra do Vietnã, o presidente Jimmy Carter concedeu uma anistia geral a todos os desertores que fugiram para o Canadá e outros locais. Por decreto presidencial eles estavam livres para voltar para casa. Alguns voltaram e outros não. Seu crime não era mais punível; mas alguns se recusaram a tirar proveito da anistia e puniram a si mesmos ficando longe de casa e da família. Os crentes na expiação universal creem que Deus permite aos pecadores recusarem o benefício da cruz de Cristo para sofrerem a punição do inferno apesar do fato dele ser totalmente desnecessário.

 Talvez a razão apresentada mais retoricamente poderosa para a expiação limitada seja aquela oferecida por John Piper (e outros calvinistas antes dele) que diz em For Whom Did Christ Die? que aqueles que creem na expiação universal “devem dizer” que a morte de Cristo na verdade não salvou ninguém, mas somente deu às pessoas uma oportunidade de salvarem a si mesmas. Este é um raciocínio totalmente falacioso.

 Os arminianos (aqueles que seguem Tiago Armínio na rejeição da eleição incondicional, da expiação limitada e da graça irresistível) creem que a morte de Cristo na cruz salva todos que a recebem pela fé. A morte de Cristo assegura a salvação destes – tanto quanto assegura a salvação dos eleitos no Calvinismo. Ela garante que qualquer um que vai a Cristo em fé será salvo por Sua morte. Isto não implica que eles salvam a si mesmos. Isso simplesmente significa que eles aceitaram a obra de Cristo em seu favor.

 RESPONDENDO AO CALVINISMO

 É difícil resistir à impressão de que os calvinistas que creem na expiação limitada assim o fazem não por claras razões bíblicas, mas porque eles acham que a Escritura a permite e a razão a exige. Não há nada necessariamente errado com isso, mas no mínimo alguns calvinistas como Piper têm criticado outros por fazerem o mesmo.[3] Piper critica outros por alegadamente abraçarem doutrinas somente porque a Escritura as permite e a lógica as exige. Parece a muitos não-calvinistas, no entanto, que os crentes na expiação limitada fazem exatamente isso. Carecendo de claro e inequívoco apoio bíblico para esta doutrina, eles a abraçam porque acham que a Escritura a permite e o seu sistema TULIP logicamente a exige. Afinal, se a eleição é incondicional e a graça é irresistível, então parece que a expiação seria somente para os eleitos.

 A Escritura contradiz a expiação limitada em Jo 3.16, 17; Rm 14.15; 2Co 5.18-19; Cl 1.19, 20; 1Tm 2.5, 6; 1Jo 2.2. Todos conhecem Jo 3.16, 17: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” Tipicamente, os calvinistas respondem que nestes versículos “mundo” faz referência a todos os tipos de pessoas e não a todos. Entretanto, isso tornaria possível interpretar todas as passagens onde o Novo Testamento conta que o “mundo” é pecador e caído no sentido de que somente algumas pessoas – todos os tipos – são pecadoras e caídas. A interpretação calvinista de Jo 3.16, 17 parece se encaixar na descrição de Vernon Grounds de exegese defeituosa usada para defender a expiação limitada.

 1Jo 2.2 é outra passagem que não podemos reconciliar com a expiação limitada: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” Esta passagem enfraquece completamente a interpretação calvinista de “mundo” em Jo 3.16, 17 porque ela explicitamente afirma que Cristo morreu uma morte expiatória não somente pelos crentes, mas também por todos. Aqui “mundo” deve incluir os não crentes porque “nosso” se refere aos crentes. Este versículo torna impossível dizer que a morte de Cristo beneficia a todos, só que não da mesma maneira (Piper diz que a morte de Cristo beneficia os não-eleitos dando-lhes somente bênçãos temporais). João diz clara e inequivocamente que o sacrifício expiatório de Cristo foi pelos pecados de todos – inclusive daqueles que não são crentes.

 E quanto a 2Co 5.18-19? “E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” Os calvinistas às vezes argumentam que esta passagem dá apoio à expiação limitada. Afinal, se Deus estava em Cristo não imputando os pecados de todos, então todos são salvos. Portanto, eles dizem, “todos” deve significar somente os eleitos. Mas isso não é verdadeiro. Quando Paulo diz que Deus estava reconciliando o mundo consigo, não imputando os pecados das pessoas contra elas, ele quer dizer se elas se arrependerem e crerem. Em outras palavras, a expiação reconciliou Deus com o mundo para que Ele pudesse perdoá-lo; isso satisfez as demandas da justiça para que da parte de Deus a reconciliação fosse possível. Mas resta aos pecadores aceitar isso pela fé. Então a plena reconciliação acontece.

 Cl 1.19, 20, diz, “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.” É impossível interpretar “todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus” como se referindo somente aos eleitos. Esta passagem refuta a expiação limitada. Igualmente faz 1Tm 2.5, 6: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos.” A única maneira de um crente na expiação limitada conseguir escapar da força desta passagem é interpretar o grego traduzido como “todos os homens” como de alguma forma significando “todos os tipos de homens,” mas essa não é uma interpretação permitida pelo uso comum da expressão na literatura grega fora do Novo Testamento (ou em outro lugar nele).

 Muitas Escrituras indicam claramente que o sacrifício expiatório de Jesus foi pretendido para todos, que Sua punição substitutiva foi por todas as pessoas. Mas há duas passagens raramente discutidas do Novo Testamento que absolutamente destroem a expiação limitada: Rm 14.15 e 1Co 8.11. Nestes versículos, Paulo severamente adverte os cristãos contra levar pessoas por quem Cristo morreu à destruição. A tradução grega das palavras “destruir” e “destruído” nestes versículos não pode significar meramente prejudicado ou ferido. Paulo claramente está advertindo as pessoas de que é possível levar as pessoas por quem Cristo morreu ao inferno (levando-as a tropeçarem e cairem pela demonstração de sua liberdade própria para comer carne sacrificada aos ídolos). Se o Calvinismo da TULIP está correto, esta advertência é inútil, porque isso não pode acontecer. De acordo com o Calvinismo, os eleitos, por quem Cristo morreu, não podem se perder.

 O peso da Escritura é claramente oposto à expiação limitada. As interpretações calvinistas destas e de passagens semelhantes faz recordar o sinal do lado de fora de uma ferraria se referindo ao seu trabalho artístico com metais: “Todos os tipos imagináveis de torção e torneamento são feitos aqui.” Entretanto, o problema com a expiação limitada vai além de alguns versículos que os calvinistas não podem explicar sem distorcer seus claros significados. O maior problema atinge o cerne da doutrina de Deus. Quem é Deus e como ele é?

 EXPIAÇÃO LIMITADA E A NATUREZA DE DEUS

 Se Deus é amor (1Jo 4.7), mas pretendeu que a morte expiatória de Cristo fosse a propiciação somente para algumas pessoas de forma que somente elas têm alguma chance de serem salvas, então o “amor” não tem nenhum significado inteligível quando se refere a Deus. Todos os cristãos concordam que Deus é amor. Mas os crentes na expiação limitada devem interpretar o amor de Deus como de alguma forma compatível com Deus incondicionalmente selecionando algumas pessoas para o tormento eterno no inferno quando Ele poderia salvá-las (porque a eleição para a salvação, e assim a própria salvação, é incondicional). Não há analogia na existência humana para este tipo de comportamento que é considerado como amoroso. Nós nunca consideraríamos como amoroso alguém que, por exemplo, podendo resgatar pessoas se afogando, se recusa a fazê-lo e resgata somente algumas. Consideraríamos tal pessoa má, mesmo se as pessoas resgatadas apreciassem o que a pessoa fez por elas.

 Os calvinistas tipicamente lidam com isso de duas maneiras. Alguns dizem que o amor de Deus é diferente do nosso amor. Mas se ele é tão diferente, ele é ininteligível. Se o “amor” de Deus não tem semelhança com algo que chamaríamos de amor, se ele se assemelha mais ao ódio do que ao amor, então ele perde todo o significado. Então, quando uma pessoa diz que Deus é amor, ela poderia também estar usando uma palavra sem sentido como “creech” – Deus é creech. Também, onde Deus melhor demonstrou o Seu amor do que em Jesus Cristo? Mas o amor de Jesus Cristo pelas pessoas é arbitrário e odioso a algumas? Ou Jesus Cristo em Seu amor por todas as pessoas revela o coração de Deus? O Calvinismo acaba tendo que pressupor um Deus oculto, muito diferente de Jesus Cristo.

 A outra maneira dos calvinistas lidarem com o amor de Deus e tentar reconciliá-lo com a expiação limitada e a dupla predestinação (as duas são realmente inseparáveis) é dizer que Deus ama todas as pessoas de alguma forma, mas somente algumas (os eleitos) de todas as formas. Piper, por exemplo, exalta o amor de Deus por todos – até mesmo ao não-eleito. Ele diz que Deus concede bênçãos temporais sobre os não-eleitos – isto é, conforme eles se movem em direção ao seu tormento eterno predestinado no inferno. John Wesley, respondendo a uma alegação similar dos calvinistas de sua época, ironizou dizendo que este é o tipo de amor que faz o sangue gelar nas veias. Uma outra resposta é que isso simplesmente significa que Deus dá aos não-eleitos um pouco do céu para levar com eles em sua jornada ao inferno. Que tipo de amor é esse – que dá bênçãos temporais e felicidade às pessoas escolhidas por Deus para o sofrimento eterno no inferno? Afinal, se o Calvinismo está correto, não há nada impedindo Deus de escolher todas as pessoas para o céu, exceto, alguns dizem, a Sua própria glória. Alguns calvinistas dizem que Deus deve manifestar todos os Seus atributos e um atributo é a justiça que torna o inferno necessário. Mais uma vez, no entanto, isso não funciona, porque a cruz foi uma manifestação suficiente da justiça de Deus.

 A expiação limitada torna o evangelismo indiscriminado impossível. Um crente na expiação limitada nunca pode dizer a algum estranho ou grupo aleatório: “Deus ama vocês e Cristo morreu pelos seus pecados e pelos meus; vocês podem ser salvos.” Todavia, esta é a própria força vital do evangelismo – contar as boas novas a todos e convidá-los a virem a Jesus Cristo em arrependimento e fé. Muitos calvinistas são inclinados ao evangelismo e às missões, mas em seu evangelismo e missões eles não podem dizer a todos no alcance de suas vozes que Deus os ama, que Jesus morreu por eles e que Ele quer que eles sejam salvos. Eles podem proclamar o evangelho (como eles o interpretam), mas não podem requerer fé prometendo-lhes salvação através de Cristo a todos que eles encontram ou a quem eles pregam.

 A expiação limitada é o calcanhar de Aquiles do Calvinismo TULIP; sem ela os outros pontos da TULIP caem. Se Deus é verdadeiramente amor, então Cristo morreu por todos para que todos possam ser salvos.

 

Fonte: http://enrichmentjournal.ag.org/201203/201203_044_limited_atonement.cfm

Tradução: Cloves Rocha dos Santos


[1] http://www.monergism.com/thethreshold/articles/piper/piper_atonement.html.

[2] Vernon C. Grounds, “God’s Universal Salvific Grace” em Grace Unlimited, ed., Clark H. Pinnock (Minneapolis: Bethany House, 1975), 27.

[3] John Piper, The Pleasures of God: Meditations on God’s Delight in Being God (Portland: Multnomah, 2000). Ver a longa nota de rodapé acerca da alegada hermenêutica falha de Pinnock, 70–74.

O Amor de Deus É Limitado aos Eleitos?

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Roger E. Olson 

A doutrina da expiação limitada é provavelmente o mais calorosamente debatido dos cinco pontos do Calvinismo entre os evangélicos. Ele é também o calcanhar de Aquiles do Calvinismo; sem ele os outros pontos caem.

 O recente renascimento do Calvinismo entre os evangélicos trouxe à tona a questão da extensão da morte expiatória de Cristo na cruz. Muitos cristãos evangélicos simplesmente assumem que Cristo morreu por todos – que Ele carregou os pecados e sofreu a penalidade por cada pecador. Pelos últimos quatro séculos, entretanto, tem havido uma representação minoritária entre os protestantes. A maioria dos calvinistas, seguidores do reformador francês da Suíça, João Calvino (1509-1564), têm ensinado que Cristo suportou a penalidade somente pelos pecados dos eleitos – aqueles incondicionalmente predestinados por Deus para a salvação. Calvinistas contemporâneos (eles muitas vezes preferem ser chamados de cristãos reformados) chamam esta doutrina de “redenção particular” ou “expiação definida.”.

 Entre os defensores evangélicos contemporâneos da expiação limitada estão, mais notavelmente, R. C. Sproul e John Piper. Sproul (nascido em 1939) tem sido um influente apologista evangélico e teólogo reformado por grande parte da última metade do século 20. De sua base em seu Ministério Ligonier ele tem falado no rádio, viajado para discursar em muitas conferências teológicas e apologéticas e escreveu muitos livros – a maioria deles tratando da soberania de Deus a partir de uma perspectiva fortemente reformada.

 Piper (nascido em 1946), pastor de Igreja Batista Bethlehem de Minneapolis, e fundador do Ministério Desiring God, também viaja muito e discursa em grandes encontros de cristãos evangélicos – incluindo as conferências Passion frequentadas por milhares da maioria dos jovens e adolescentes batistas do sul. Ele é um prolífico autor cujos livros, incluindo Desiring God: Confessions of a Christian Hedonist (1986), têm vendido milhões de cópias. Como Sproul, Piper é um promotor apaixonado do Calvinismo de cinco pontos.

 

CALVINISMO DE CINCO PONTOS

 O Calvinismo de cinco pontos é a crença nas doutrinas representadas pelo acróstico TULIP: depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos. Os calvinistas criaram o acróstico por volta de 1913, mas as “doutrinas da graça” que ele representa remontam ao sucessor de Calvino – Teodoro Beza (1519-1605) – diretor da Academia de Genebra (um seminário reformado em Genebra, Suíça, fundado por Calvino). A expiação limitada se encontra no centro deste sistema teológico. Sproul, Piper e muitos outros teólogos evangélicos contemporâneos influentes tenazmente mantêm e defendem esta posição.

 

EXPIAÇÃO LIMITADA

 O que a expiação limitada ou redenção particular significa? De acordo com Sproul, que prefere chamar essa doutrina de “expiação designada,” ela significa que Deus pretendeu que a morte de Cristo na cruz assegurasse a salvação de um número definido de seres humanos caídos – aqueles escolhidos incondicionalmente por Deus. Como outros calvinistas, Sproul argumenta que a morte substitutiva de Cristo (isto é, Deus impôs sobre Cristo a penalidade pelos pecados merecida pelos pecadores) foi de valor suficiente para salvar a todos, mas Deus apenas pretendeu que ela salvasse os eleitos. No sentido mais significante, Cristo morreu apenas pelos eleitos e não por todos.

 Para Sproul (e outros como ele), esta doutrina não é dispensável; ela é parte essencial do sistema TULIP que eles creem ser a única que faz justiça à soberania de Deus e à natureza do dom da salvação. Um argumento usado por Sproul, seguindo o teólogo puritano John Owen (1616-1683), é que, se Cristo morreu por todos igualmente, então todos são salvos. Afinal, como segue o argumento, seria injustiça de Deus punir os mesmos pecados duas vezes – uma vez impondo a penalidade sobre Cristo e outra vez ao enviar o pecador para o inferno. Piper é igualmente apaixonado pela expiação limitada. Como Sproul, ele não a considera um ponto secundário da teologia. Em um artigo intitulado “For Whom Did Christ Die and What Did Christ Actually Achieve on the Cross for Those for Whom He Died?”[1]Piper argumenta que não é o calvinista que limita a expiação, mas o não-calvinista que crê na expiação universal. A razão: Aqueles que creem na expiação universal devem dizer que a morte de Cristo na verdade não salvou ninguém, mas somente deu às pessoas a oportunidade de salvarem a si mesmas. Ou eles devem abraçar o universalismo.

 Piper continua e argumenta que Cristo de fato morreu por todas as pessoas, mas não da mesma maneira. Todas as pessoas se beneficiam da morte de Cristo, por exemplo, recebendo certas bênçãos nesta vida que eles de outra forma não receberiam – mas somente os eleitos recebem dela o benefício da salvação.

 Esta doutrina da expiação limitada é provavelmente o mais calorosamente debatido dos cinco pontos do Calvinismo entre os evangélicos. O teólogo evangélico Vernon Grounds, ex-presidente do Seminário Denver, atacou severamente a doutrina. Apontando para Jo 1.29; Rm 5.17-21; 11.32; 1Tm 2.6; Hb 2.9; e 1Jo 2.2, ele escreveu, “É preciso uma engenhosidade exegética que é outra coisa menos uma habilidade culta esvaziar estes textos de seu significado óbvio: é preciso uma engenhosidade exegética próxima de um sofisma negar sua explícita universalidade.”[2]É desnecessário dizer, muitos evangélicos, incluindo alguns calvinistas, acham essa doutrina repugnante.

 

BASE PARA A EXPIAÇÃO LIMITADA

 Antes de explicar por que esta doutrina é repulsiva, será proveitoso ver as razões por que muitos calvinistas a têm em alta conta e a promovem tão apaixonadamente. Mais uma vez, o que é esta doutrina? É que Deus pretendeu que a morte de Jesus na cruz fosse uma propiciação (um sacrifício expiatório, substitutivo) apenas pelos pecados dos eleitos – aqueles que Deus escolheu salvar à parte de qualquer coisa que Ele vê neles ou sobre eles (exceto Sua escolha dessas pessoas para a Sua glória e boa vontade).

 Por que alguém acreditaria nisso?

 Os proponentes da expiação limitada apontam várias Escrituras: Jo 10.15; 17.6 e versículos semelhantes em Jo 10-17; Rm 8.32; Ef 5.25-27; Tt 2.14.

 Os calvinistas usam Jo 10.15 para apoiar o seu ensino: “Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.” Muitos outros versículos em João dizem quase a mesma coisa – que Cristo deu a Sua vida por Suas ovelhas (isto é, Seus discípulos e todos os que viriam depois deles). Os calvinistas também apontam Rm 8.32: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” Eles supõem que “todos nós” faz referência aos eleitos. Ef 5.25-27 diz, “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” Os calvinistas creem que esta passagem, como muitas outras, se refere apenas à igreja como o objeto do sacrifício purificador de Cristo. Tt 2.14 diz: “O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.” Os calvinistas acreditam que Paulo, o autor de Tito, parece restringir os benefícios salvadores da morte de Cristo ao “seu povo,” o que eles acreditam ser os eleitos.

 Os calvinistas assumem que estes versículos e outros como eles ensinam que Cristo morreu somente por aqueles escolhidos por Deus para a salvação. Mas estes versículos não ensinam as crenças calvinistas. Em nenhum lugar a Bíblia explicitamente ensina esta doutrina calvinista;  atribuem a estas passagens sua crença que Cristo morreu somente pela igreja, pelo Seu povo, por Suas ovelhas. Estes versículos não dizem que Cristo não morreu também pelos outros. E, como veremos, há muitas passagens que ensinam claramente que Cristo morreu por todos.

 Há outra razão para os calvinistas crerem na expiação limitada. Se Cristo morreu igualmente por todos, eles alegam, então todos são salvos. Eles argumentam que aqueles que creem na expiação universal se defrontam com duas opções inevitáveis, mas biblicamente insustentáveis: ou a morte de Cristo salvou a todos ou ela não salvou ninguém. Este argumento é, no entanto, falacioso. A expiação universal não requer a salvação universal; ela somente requer a possibilidade de salvação universal.

 É possível que os mesmos pecados sejam punidos duas vezes e é isso o que torna o inferno tão absolutamente trágico – ele é totalmente desnecessário. Deus pune com o inferno aqueles que rejeitam a substituição de Seu Filho. Uma analogia ajudará a tornar isto claro. Após a Guerra do Vietnã, o presidente Jimmy Carter concedeu uma anistia geral a todos os desertores que fugiram para o Canadá e outros locais. Por decreto presidencial eles estavam livres para voltar para casa. Alguns voltaram e outros não. Seu crime não era mais punível; mas alguns se recusaram a tirar proveito da anistia e puniram a si mesmos ficando longe de casa e da família. Os crentes na expiação universal creem que Deus permite aos pecadores recusarem o benefício da cruz de Cristo para sofrerem a punição do inferno apesar do fato dele ser totalmente desnecessário.

 Talvez a razão apresentada mais retoricamente poderosa para a expiação limitada seja aquela oferecida por John Piper (e outros calvinistas antes dele) que diz em For Whom Did Christ Die? que aqueles que creem na expiação universal “devem dizer” que a morte de Cristo na verdade não salvou ninguém, mas somente deu às pessoas uma oportunidade de salvarem a si mesmas. Este é um raciocínio totalmente falacioso.

 Os arminianos (aqueles que seguem Tiago Armínio na rejeição da eleição incondicional, da expiação limitada e da graça irresistível) creem que a morte de Cristo na cruz salva todos que a recebem pela fé. A morte de Cristo assegura a salvação destes – tanto quanto assegura a salvação dos eleitos no Calvinismo. Ela garante que qualquer um que vai a Cristo em fé será salvo por Sua morte. Isto não implica que eles salvam a si mesmos. Isso simplesmente significa que eles aceitaram a obra de Cristo em seu favor.

 

RESPONDENDO AO CALVINISMO

 É difícil resistir à impressão de que os calvinistas que creem na expiação limitada assim o fazem não por claras razões bíblicas, mas porque eles acham que a Escritura a permite e a razão a exige. Não há nada necessariamente errado com isso, mas no mínimo alguns calvinistas como Piper têm criticado outros por fazerem o mesmo.[3] Piper critica outros por alegadamente abraçarem doutrinas somente porque a Escritura as permite e a lógica as exige. Parece a muitos não-calvinistas, no entanto, que os crentes na expiação limitada fazem exatamente isso. Carecendo de claro e inequívoco apoio bíblico para esta doutrina, eles a abraçam porque acham que a Escritura a permite e o seu sistema TULIP logicamente a exige. Afinal, se a eleição é incondicional e a graça é irresistível, então parece que a expiação seria somente para os eleitos.

 A Escritura contradiz a expiação limitada em Jo 3.16, 17; Rm 14.15; 2Co 5.18-19; Cl 1.19, 20; 1Tm 2.5, 6; 1Jo 2.2. Todos conhecem Jo 3.16, 17: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” Tipicamente, os calvinistas respondem que nestes versículos “mundo” faz referência a todos os tipos de pessoas e não a todos. Entretanto, isso tornaria possível interpretar todas as passagens onde o Novo Testamento conta que o “mundo” é pecador e caído no sentido de que somente algumas pessoas – todos os tipos – são pecadoras e caídas. A interpretação calvinista de Jo 3.16, 17 parece se encaixar na descrição de Vernon Grounds de exegese defeituosa usada para defender a expiação limitada.

 1 Jo 2.2 é outra passagem que não podemos reconciliar com a expiação limitada: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” Esta passagem enfraquece completamente a interpretação calvinista de “mundo” em Jo 3.16, 17 porque ela explicitamente afirma que Cristo morreu uma morte expiatória não somente pelos crentes, mas também por todos. Aqui “mundo” deve incluir os não crentes porque “nosso” se refere aos crentes. Este versículo torna impossível dizer que a morte de Cristo beneficia a todos, só que não da mesma maneira (Piper diz que a morte de Cristo beneficia os não-eleitos dando-lhes somente bênçãos temporais). João diz clara e inequivocamente que o sacrifício expiatório de Cristo foi pelos pecados de todos – inclusive daqueles que não são crentes.

 E quanto a 2Co 5.18-19? “E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” Os calvinistas às vezes argumentam que esta passagem dá apoio à expiação limitada. Afinal, se Deus estava em Cristo não imputando os pecados de todos, então todos são salvos. Portanto, eles dizem, “todos” deve significar somente os eleitos. Mas isso não é verdadeiro. Quando Paulo diz que Deus estava reconciliando o mundo consigo, não imputando os pecados das pessoas contra elas, ele quer dizer se elas se arrependerem e crerem. Em outras palavras, a expiação reconciliou Deus com o mundo para que Ele pudesse perdoá-lo; isso satisfez as demandas da justiça para que da parte de Deus a reconciliação fosse possível. Mas resta aos pecadores aceitar isso pela fé. Então a plena reconciliação acontece.

 Cl 1.19, 20, diz, “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.” É impossível interpretar “todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus” como se referindo somente aos eleitos. Esta passagem refuta a expiação limitada. Igualmente faz 1Tm 2.5, 6: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos.” A única maneira de um crente na expiação limitada conseguir escapar da força desta passagem é interpretar o grego traduzido como “todos os homens” como de alguma forma significando “todos os tipos de homens,” mas essa não é uma interpretação permitida pelo uso comum da expressão na literatura grega fora do Novo Testamento (ou em outro lugar nele).

 Muitas Escrituras indicam claramente que o sacrifício expiatório de Jesus foi pretendido para todos, que Sua punição substitutiva foi por todas as pessoas. Mas há duas passagens raramente discutidas do Novo Testamento que absolutamente destroem a expiação limitada: Rm 14.15 e 1Co 8.11. Nestes versículos, Paulo severamente adverte os cristãos contra levar pessoas por quem Cristo morreu à destruição. A tradução grega das palavras “destruir” e “destruído” nestes versículos não pode significar meramente prejudicado ou ferido. Paulo claramente está advertindo as pessoas de que é possível levar as pessoas por quem Cristo morreu ao inferno (levando-as a tropeçarem e cairem pela demonstração de sua liberdade própria para comer carne sacrificada aos ídolos). Se o Calvinismo da TULIP está correto, esta advertência é inútil, porque isso não pode acontecer. De acordo com o Calvinismo, os eleitos, por quem Cristo morreu, não podem se perder.

 O peso da Escritura é claramente oposto à expiação limitada. As interpretações calvinistas destas e de passagens semelhantes faz recordar o sinal do lado de fora de uma ferraria se referindo ao seu trabalho artístico com metais: “Todos os tipos imagináveis de torção e torneamento são feitos aqui.” Entretanto, o problema com a expiação limitada vai além de alguns versículos que os calvinistas não podem explicar sem distorcer seus claros significados. O maior problema atinge o cerne da doutrina de Deus. Quem é Deus e como ele é?

 

EXPIAÇÃO LIMITADA E A NATUREZA DE DEUS

 Se Deus é amor (1Jo 4.7), mas pretendeu que a morte expiatória de Cristo fosse a propiciação somente para algumas pessoas de forma que somente elas têm alguma chance de serem salvas, então o “amor” não tem nenhum significado inteligível quando se refere a Deus. Todos os cristãos concordam que Deus é amor. Mas os crentes na expiação limitada devem interpretar o amor de Deus como de alguma forma compatível com Deus incondicionalmente selecionando algumas pessoas para o tormento eterno no inferno quando Ele poderia salvá-las (porque a eleição para a salvação, e assim a própria salvação, é incondicional). Não há analogia na existência humana para este tipo de comportamento que é considerado como amoroso. Nós nunca consideraríamos como amoroso alguém que, por exemplo, podendo resgatar pessoas se afogando, se recusa a fazê-lo e resgata somente algumas. Consideraríamos tal pessoa má, mesmo se as pessoas resgatadas apreciassem o que a pessoa fez por elas.

 Os calvinistas tipicamente lidam com isso de duas maneiras. Alguns dizem que o amor de Deus é diferente do nosso amor. Mas se ele é tão diferente, ele é ininteligível. Se o “amor” de Deus não tem semelhança com algo que chamaríamos de amor, se ele se assemelha mais ao ódio do que ao amor, então ele perde todo o significado. Então, quando uma pessoa diz que Deus é amor, ela poderia também estar usando uma palavra sem sentido como “creech” – Deus é creech. Também, onde Deus melhor demonstrou o Seu amor do que em Jesus Cristo? Mas o amor de Jesus Cristo pelas pessoas é arbitrário e odioso a algumas? Ou Jesus Cristo em Seu amor por todas as pessoas revela o coração de Deus? O Calvinismo acaba tendo que pressupor um Deus oculto, muito diferente de Jesus Cristo.

 A outra maneira dos calvinistas lidarem com o amor de Deus e tentar reconciliá-lo com a expiação limitada e a dupla predestinação (as duas são realmente inseparáveis) é dizer que Deus ama todas as pessoas de alguma forma, mas somente algumas (os eleitos) de todas as formas. Piper, por exemplo, exalta o amor de Deus por todos – até mesmo ao não-eleito. Ele diz que Deus concede bênçãos temporais sobre os não-eleitos – isto é, conforme eles se movem em direção ao seu tormento eterno predestinado no inferno. John Wesley, respondendo a uma alegação similar dos calvinistas de sua época, ironizou dizendo que este é o tipo de amor que faz o sangue gelar nas veias. Uma outra resposta é que isso simplesmente significa que Deus dá aos não-eleitos um pouco do céu para levar com eles em sua jornada ao inferno. Que tipo de amor é esse – que dá bênçãos temporais e felicidade às pessoas escolhidas por Deus para o sofrimento eterno no inferno? Afinal, se o Calvinismo está correto, não há nada impedindo Deus de escolher todas as pessoas para o céu, exceto, alguns dizem, a Sua própria glória. Alguns calvinistas dizem que Deus deve manifestar todos os Seus atributos e um atributo é a justiça que torna o inferno necessário. Mais uma vez, no entanto, isso não funciona, porque a cruz foi uma manifestação suficiente da justiça de Deus.

 A expiação limitada torna o evangelismo indiscriminado impossível. Um crente na expiação limitada nunca pode dizer a algum estranho ou grupo aleatório: “Deus ama vocês e Cristo morreu pelos seus pecados e pelos meus; vocês podem ser salvos.” Todavia, esta é a própria força vital do evangelismo – contar as boas novas a todos e convidá-los a virem a Jesus Cristo em arrependimento e fé. Muitos calvinistas são inclinados ao evangelismo e às missões, mas em seu evangelismo e missões eles não podem dizer a todos no alcance de suas vozes que Deus os ama, que Jesus morreu por eles e que Ele quer que eles sejam salvos. Eles podem proclamar o evangelho (como eles o interpretam), mas não podem requerer fé prometendo-lhes salvação através de Cristo a todos que eles encontram ou a quem eles pregam.

 A expiação limitada é o calcanhar de Aquiles do Calvinismo TULIP; sem ela os outros pontos da TULIP caem. Se Deus é verdadeiramente amor, então Cristo morreu por todos para que todos possam ser salvos.

 

Fonte:  Arminianismo pontocom

Tradução: Cloves Rocha dos Santos

Atos 2:23 – PC Antunes

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A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos.

 Este poderia ser um verso totalmente irrelevante para as controvérsias entre calvinistas e arminianos, pois ele não resolve a problemática da soberania divina e responsabilidade humana; ele apenas expõe os dois lados dessa grande verdade, de que a soberania divina é compatível com a responsabilidade humana, sem preocupação alguma de harmonizá-los. Mas como os calvinistas têm extraído algumas conclusões deste verso a fim de fundamentar melhor sua posição, é imperativo que os arminianos avaliem, não apenas o verso, como também as premissas nas quais os calvinistas se apóiam para concluir que o verso se ajusta apenas com o seu sistema, e dêem uma resposta clara e consistente.

 A primeira conclusão é que eventos contingentes não podem ser pré-conhecidos por Deus. A razão apresentada é unicamente que, por não podermos prever eventos contingentes, Deus também não deve poder. Mas Deus tem infinitamente mais recursos que os humanos para antecipar eventos contingentes, e essa conclusão leva em consideração apenas o nosso lado (nosso raciocínio lógico e experiência pessoal), e não o de Deus. O verso em questão, então, não serve para estabelecer a idéia de que Deus primeiro precisa decretar algo antes que possa “pré conhecê-lo”. Os arminianos entendem que um evento contingente (que pode ou não acontecer) pode ser pré-conhecido por Deus, e é certo que acontecerá, se os meios necessários para a sua realização forem satisfeitos.

 Alguém pode sugerir que nem todos os calvinistas tiram esta conclusão, o que eu devo admitir. Berkhof, por exemplo, reconhece que “é perfeitamente evidente que a Escritura ensina a presciência divina de eventos contingentes,” e que “é-nos levantado um problema aqui, que não podemos resolver plenamente.” [1] Portanto, o problema não é exclusivo dos arminianos, mas dos cristãos em geral, que acreditam na presciência divina de todos os eventos e na liberdade humana. Logicamente, Berkhof não tem o mesmo entendimento dos arminianos e descarta a possibilidade de que algo possa ser pré-conhecido por Deus sem que primeiro seja determinado por Ele. Ele diz:

 Ações que de maneira nenhuma são determinadas por Deus, direta ou indiretamente, mas que são totalmente dependentes da vontade arbitrária do homem, dificilmente podem ser objeto do pré-conhecimento divino. [2]

                    Berkhof foi cauteloso: ele não diz que tais ações não podem ser objeto do pré conhecimento divino, mas que dificilmente podem. Mas o que ele quer dizer por ‘vontade arbitrária do homem’? Em outro lugar, ele esclarece:

 Ao que parece, é impossível conhecer antecipadamente eventos que dependem por completo da decisão causal de uma vontade alheia a princípios que podem em qualquer ocasião, independentemente do estado de espírito, das condições existentes, e dos motivos que se apresentam à mente, seguir diferentes direções. Eventos dessa natureza só podem ser conhecidos previamente como puras possibilidades. [3]

     Essa é uma caracterização um tanto distorcida da posição arminiana. É óbvio que as nossas decisões dependem de nosso estado de espírito, das condições existentes, e dos motivos que se apresentam à mente, enfim, as condições causais devem existir e elas são necessárias para que tomemos qualquer decisão. O arminiano não acredita que a nossa vontade se move independentemente de condições causais; ele apenas nega que essas condições causais são suficientes para determinar nossas decisões.

               A segunda conclusão extraída pelos calvinistas de At 2.23 é que o decreto de Deus vem antes de Sua presciência, em razão do verso apresentar, primeiro, o ‘conselho, ’ e só então a ‘presciência de Deus. ’ Pink nos diz:

 A presciência divina alicerça-se nos próprios decretos de Deus, conforme se vê claramente em Atos 2.23: “Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos.” Notem a ordem de apresentação: primeiramente, o “determinado desígnio” de Deus (o seu decreto); em segundo lugar, a sua “presciência.”[4]

                 O raciocínio de Pink é que, pela razão de que o autor bíblico escreveu a palavra ‘conselho’ antes da palavra ‘presciência, ’ segue-se que o decreto de Deus antecede sua presciência. Que nessa ordem foi escrito é evidente. O que não é tão evidente é a validade dessa argumentação.

 Supondo ser válida, esta linha de raciocínio poderia nos levar a concluir absurdamente que:

 1 – O nosso chamado é anterior à nossa eleição.

 Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis (2Pe 1.10).

 2 – A nossa salvação é anterior ao nosso chamado.

 Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos (2Tm 1.9).

 3 – Que recebemos o convite geral do Evangelho antes de sermos escolhidos.

 Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos (Mt 22.14).

              Há certamente versos onde a ordem em que as palavras foram escritas servem para estabelecermos certos entendimentos. Tomemos como exemplo Rm 8.30 (E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou). Há razões suficientes para concluir, por exemplo, que a predestinação precede a justificação, não porque uma palavra foi escrita antes da outra, mas porque o autor inspirado fixou uma relação de dependência entre elas, na qual cada etapa pela qual o crente passa, até culminar em sua glorificação, depende de seu antecedente. Mas essa relação de dependência não existe, explícita ou implicitamente, em At 2.23, sendo, por essa razão, precipitado tirar qualquer conclusão em função da ordem em que as palavras foram escritas.


[1] Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 70

[2] Ibid., p. 71.

[3] Ibid., p. 108.

[4] Arthur Pink, Deus é Soberano, p. 59.

 

O Calvinismo e a Bíblia: 1ª. Parte A Soberania e o Livre-Arbítrio de acordo com o Calvinismo

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 Jack Cottrell

Esta breve série irá tentar explicar a essência e os erros do Calvinismo, focando principalmente naquela que é chamada a sua forma “moderada”.

 

A principal doutrina do Calvinismo é uma compreensão específica da soberania de Deus. K. Talbot e Crampton W. dizem: “A soberania de Deus é fundamental para o Cristianismo. É o princípio mais básico do Calvinismo”.[1] Mas todos os cristãos creem na soberania de Deus (ou seja, o Senhorio). Como o Calvinismo é diferente?

 

Para os calvinistas, dizer que Deus é soberano significa que ele é e deve ser a causa final de todas as coisas fora de si mesmo, até os detalhes mais minuciosos. “Deus é a primeira causa de tudo o que existe, e nada existe que não seja preordenado por ele”.[2] Esta é uma forma de determinismo ou preordenação absoluta cristã. Como John Feinberg diz: “Os calvinistas em geral são deterministas”.[3]

 

O conceito controlador e definitivo para a compreensão calvinista da soberania divina é a doutrina do decreto eterno. Por sua própria natureza, este decreto estabelece o Calvinismo como um sistema determinístico, no qual cada detalhe do universo em curso é pré-determinado (predestinado, preordenado) para acontecer em conformidade com a vontade intencional de Deus. James White declara que o ponto mais básico da teologia de Calvino é a “absoluta liberdade e soberania de Deus em decretar tudo o que acontece no tempo”.[4] O decreto é “uma determinação divina”, diz John Frame.[5]

 

Qual é a natureza do decreto? Ele é eterno, porque foi feito na eternidade passada, antes da criação e existência de qualquer coisa fora de Deus. É abrangente ou todo-inclusivo, pois engloba “tudo o que acontece”, como diz a Confissão de Fé de Westminster (III:1). Ele inclui tudo, desde os destinos das nações até o movimento das partículas atômicas. Ele inclui especialmente as decisões de todos os seres humanos, até mesmo os seus pecados.[6]

 

O que torna o decreto determinista é que ele é eficaz e incondicional. “Eficaz” é da família de uma palavra latina que significa “produzir, ocasionar, causar”. Que o decreto é eficaz significa que, em certo sentido, ele (ou a vontade de Deus expressa nele) é a causa última de tudo. O que quer que aconteça, acontece em virtude do fato de que faz parte do decreto. Como Herman Bavinck diz: “A resposta final à pergunta: por que uma coisa é, e por que ela é como é, deve sempre ser: ‘Deus a quis’, conforme sua absoluta soberania”.[7]

 

Que o decreto é incondicional significa que nada nele foi condicionado por qualquer coisa fora de Deus; Deus não incluiu qualquer coisa no decreto em resposta ou reação a algo fora de si, tais como as escolhas humanas pré-conhecidas.[8] “Deus inicia todas as coisas”.[9] O que ele decreta e faz em nada depende da criatura. “Um decreto condicional subverteria a soberania de Deus e… torná-lo-ia dependente das ações voluntárias de suas próprias criaturas”, diz A. A. Hodge.[10]

 

O decreto é, portanto, “um modelo para tudo o que acontece”.[11] John Frame sugere a analogia de Deus como o autor de um romance que “concebe e traz à existência todos os eventos que acontecem”, exercendo “controle completo sobre seus personagens”.[12]

 

Este conceito do decreto soberano cria vários problemas para os calvinistas. O primeiro é a questão do livre-arbítrio humano. Se Deus é soberano no sentido acima descrito, e se as ações humanas são “causalmente determinadas”,[13] como pode verdadeiramente haver livre-arbítrio? E como problemas resultantes: se as escolhas de um homem são predeterminadas, como ele pode ser responsabilizado por elas? Especialmente, como ele pode ser responsabilizado e punido por seus pecados? Além disso, se Deus decreta esses atos pecaminosos, isto não significa que ele próprio é o responsável pelo pecado do homem?

 

Como os calvinistas resolvem esses problemas? Aqueles mais radicais nem sequer tentam; eles simplesmente declaram que o livre-arbítrio não existe e que o Deus soberano tem o direito de fazer o que lhe traz a maior glória, incluindo o pecado. Calvinistas mais moderados, no entanto, introduziram diversos conceitos e artifícios que eles acreditam que preservam a liberdade e a responsabilidade humana, e isentam Deus da responsabilidade pelo pecado.

 

O primeiro de tais artifícios é redefinir o livre-arbítrio de tal forma que seja compatível com o determinismo; este é o conceito compatibilista do livre-arbítrio. Os defensores deste “determinismo suave” afirmam que “tudo o que acontece é causalmente determinado, porém… algumas ações são livres”.[14] É dessa forma porque as escolhas de cada pessoa são baseadas em seu caráter, desejos e motivações internas. Nesse sentido, sempre agimos de acordo com nosso desejo mais forte, mais imediato.[15] Essas escolhas são livres porque sempre fazemos exatamente o que queremos fazer, sem constrangimento e sem qualquer tipo de coerção. “Assim, um ato é livre, embora causalmente determinado, se ele é o que o agente queria fazer”.[16] Isto explica também porque podemos ser responsáveis por nossas ações.

 

Mas como pode tais escolhas “livres” serem causalmente determinadas, se estamos sempre fazendo o que nós escolhemos fazer? Porque, embora Deus nos “permita” agir de acordo com os nossos desejos e motivos mais fortes, ele mesmo é quem arranja todas as nossas circunstâncias de tal maneira que ele faz com que estejam presentes em nossos corações apenas aqueles desejos e motivos que produzirão somente as escolhas que ele próprio decretou que fossem feitas.[17] R. Peterson e M. Williams dizem: “Liberdade, no sentido compatibilista, é a afirmação de que, ainda que cada escolha que fazemos e cada ato que realizamos sejam determinados por forças que estão fora de nós mesmos e, finalmente determinado pela orientação ordenada de Deus, ainda assim somos livres, pois ainda agimos de acordo com nossos desejos”.[18]

 

Mas se Deus está manipulando nossas circunstâncias e nossos corações para que, no final, inevitavelmente escolhemos apenas o que ele decretou que iremos escolher, por que Deus não tem responsabilidade e culpa por nossas escolhas pecaminosas? Aqui é onde os outros dois artifícios são introduzidos. Um deles é o conceito das segundas causas (secundárias). Isto significa que, embora Deus tenha predeterminado cada detalhe do que vai acontecer, ele determina que somente algumas dessas coisas sejam causadas diretamente por ele; outras serão causadas por ele apenasindiretamente, através de outros aspectos da criação. No que diz respeito aos atos pecaminosos, os calvinistas creem que Deus está, portanto, isento de qualquer responsabilidade por eles, porque ele não os causa diretamente. A causa direta ou imediata é o próprio pecador.

 

Tal artifício parece bastante artificial, entretanto, uma vez que Deus decretou tais “segundas causas” exclusivamente com a finalidade de ocasionar os efeitos específicos que irão produzir. É tudo parte do decreto: “O decreto inclui não apenas os fins escolhidos por Deus, mas também os meios para a consecução desses fins”.[19] “Tais meios incluem todas e quaisquer circunstâncias e fatores necessários para convencer a pessoa (sem constrangimento) de que a ação que Deus decretou é a ação que essa pessoa deseja praticar”.[20]

 

O outro artifício pelo qual os calvinistas tentam isentar Deus da responsabilidade pelo pecado é o conceito de permissão divina. Ou seja, em relação ao pecado, Deus não o causa ativamente, mas apenas o permite. “Os decretos divinos são divididos em eficazes e permissivos”, diz W. G. T. Shedd.[21]

 

Isso parece razoável até que vemos que a maioria dos calvinistas não usa o termo “permissão” no seu sentido usual, mas falam dele como uma paradoxal “permissão eficaz”. Frame reconhece que os calvinistas usam o termo, mas diz que “eles insistem que a permissão do pecado por Deus não é menos eficaz do que a ordenação do bem”. De fato, para os calvinistas, a permissão “é uma forma de ordenação, uma forma de causalidade”.[22] D. A. Carson diz com razão: “Distinções entre a vontade permissiva e a decretiva parecerá desesperadamente artificial” neste contexto. Como “esta permissão difere do decreto?”[23]

 

No próximo artigo, vou responder ao conceito calvinista da soberania mediante a apresentação de uma alternativa que considero ser bíblica.

 

Tradução: Cloves Rocha dos Santos

 


[1] Calvinism, Hyper-Calvinism, and Arminianism, 1990:14.

[2] Idem, 6.

[3] Em Basinger, ed., Predestinação e Livre-Arbítrio, 2000:34.

[4] The Potter’s Freedom, 2000:63.

[5] The Doctrine of God, 2002:315.

[6] John Feinberg, No One Like Him, 2001:516-518.

[7] The Doctrine of God, 1951:371.

[8] Veja Feinberg, No One Like Him, 527.

[9] Arthur Pink, Deus É Soberano, 2002:181.

[10] Esboços de Teologia, 2001:279.

[11] Feinberg, No One Like Him, 530.

[12] The Doctrine of God, 156, 314.

[13] Feinberg, em Predestinação, 45.

[14] Feinberg, No One Like Him, 635.

[15] Frame, The Doctrine of God, 136-137.

[16] Feinberg, No One Like Him, 637.

[17] Veja Feinberg, No One Like Him, 653-654.

[18] Why I Am Not an Arminian, 2004:156; grifo meu.

[19] Feinberg, em Predestinação, 41.

[20] Idem.

[21] Dogmatic Theology, 1969, I:405.

[22] The Doctrine of God, 177-178.

[23] Divine Sovereignty and Human Responsibility, 1981:213-214.

2ª Pedro 3: 9 – Artigo –

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Artigos – Paulo Cesar Antunes

2Pe 3.9

Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.

R. K. McGregor Wright está correto quando diz que “a questão a ser resolvida em 2Pe 3.9 é a quem o ‘nenhum’ se refere.”[1] Os arminianos entendem que este versículo ensina que Deus deseja a salvação de todo ser humano. Deus não quer que alguns da raça humana se percam, senão que todos venham a arrepender-se.

Wesley comenta sobre este versículo:

Não retarda o Senhor – Como se o tempo fixado para ela tivesse passado, a sua promessa – Que certamente será cumprida no tempo certo; pelo contrário, ele é longânimo para convosco – Filhos dos homens, não querendo que nenhum – Nenhuma alma que ele criou, pereça. [2]

Para tal conclusão os arminianos apóiam-se em outros versículos das Escrituras, como Ez 33.11, que diz que Deus não tem “prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva”, e 1Tm 2.4, que nos revela que Deus “quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”. Deus sinceramente deseja a salvação de cada ser humano, ainda que alguns venham a perder-se.

Os arminianos e a maioria dos calvinistas descartam a possibilidade de Pedro estar falando dos crentes em geral, e por uma boa razão. Segundo esta hipótese, o versículo estaria dizendo que Deus não quer que alguns dos crentes se percam, senão que todos os crentes venham a arrepender-se. Seria uma insensatez a afirmação de que Deus quer que todos os crentes venham a arrepender-se. Eles já se arrependeram. Não resolve dizer que Pedro está falando do arrependimento diário dos crentes, pois as pessoas aqui em vista correm o risco de perderem-se para sempre e a longanimidade de Deus tem como finalidade a sua salvação (“Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor,” 2Pe 3.15).

A interpretação arminiana, no entanto, não tem sido bem recebida pelos calvinistas:

Ora, alegar que o Senhor… Quer que todos os homens se arrependam, é uma tolice, sem dúvida alguma![3]

O texto diz mais do que simplesmente que Deus não quer que ninguém pereça. A cláusula inteira é importante: “pelo contrário, ele é longânime para convosco, não querendo que nenhum pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento.”

Qual é o antecedente de nenhum? Somos claramente nós. Será que “nós” se refere a todos nós humanos? Ou se refere a nós cristãos, o povo de Deus? Pedro gosta de falar dos eleitos como um grupo especial de pessoas. Eu acho que o que ele está dizendo aqui é que Deus não quer que nenhum de nós (os eleitos) pereça. [4]

Ainda, os calvinistas chamam a atenção para o fato de que Pedro está escrevendo, como fez em sua primeira carta (2Pe 3.1), aos “eleitos segundo a presciência de Deus Pai” (1Pe 1.1).[5] Nessa interpretação, portanto, Pedro estaria dizendo que Deus não quer que alguns dos eleitos se percam, senão que todos os eleitos venham a arrepender-se.

Essa interpretação, no entanto, não se sustenta pela seguinte razão: Pedro não está escrevendo sua carta aos eleitos como tais, de forma que qualquer um que porventura venha alcançar “fé igualmente preciosa” (2Pe 1.1) se sinta destinatário da carta. Ele escreveu, não a uma classe abstrata, mas a um grupo definido de pessoas, “aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pe 1.1), a quem ele freqüentemente chamava de “amados” (1Pe 2.10; 4.12; 2Pe 3.1, 8, 14, 17). É evidente, portanto, que Pedro não inclui em sua carta os eleitos ainda incrédulos, mas somente aqueles que verdadeiramente se converteram.

John Murray, embora calvinista, também rejeita esta opinião:

Não cremos que a restrição da referência aos eleitos é bem estabelecida. A epístola não faz esta restrição. [6]

Gordon H. Clark ainda oferece uma segunda objeção à hipótese de que Deus deseja a salvação de todos:

Pedro nos conta que o retorno de Cristo aguarda o arrependimento de certas pessoas. Agora, se o retorno de Cristo esperasse o arrependimento de cada indivíduo sem exceção, Cristo nunca retornaria. [7]

Clark, como pode ser visto, não acredita que Cristo possa aguardar o arrependimento de pessoas que nunca se arrependerão. Não obstante, as Escrituras afirmam exatamente o oposto:

Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição? (Rm 9.22).

Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus (Rm 2.4, 5).

Certamente os calvinistas não irão afirmar que as pessoas aqui em vista, com quem Deus está sendo longânimo, são os eleitos. E é notável ainda que, tanto em Rm 9.22 como em Rm 2.4, a palavra longanimidade é a tradução do grego makrothumia, enquanto que em 2Pe 3.9 a palavra longânimo traduz o grego makrothumeō. Portanto, a afirmação de alguns calvinistas de que seria uma tolice imaginar que Deus deseja a salvação daqueles que perecem é simplesmente insustentável à luz de outros versículos.

Uma prova adicional da longanimidade de Deus com os reprovados pode ser vista na própria carta de Pedro:

Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade (gr. makrothumia) de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água (1Pe 3.20).

Seguindo o raciocínio de Clark, quando diz que “se o retorno de Cristo esperasse o arrependimento de cada indivíduo sem exceção, Cristo nunca retornaria,” poderíamos chegar à estúpida conclusão que, se Deus esperasse o arrependimento dos contemporâneos de Noé, o dilúvio nunca aconteceria. Como as Escrituras tanto afirmam que Deus esperou o seu arrependimento como que o dilúvio aconteceu, há algo de errado com a objeção de Clark. E como ela pode ser usada para afirmar a impossibilidade de algo que já aconteceu, ela não prova nada.

Podemos seguramente dizer que em 2Pe 3.9 a imagem do dilúvio ainda estava na mente do apóstolo, considerando que poucas linhas antes ele fala desse acontecimento (2Pe 2.5). Da mesma forma que Noé proclamou a vinda do dilúvio, os crentes hoje proclamam o retorno de Cristo (2Pe 3.9). Da mesma forma que zombaram de Noé acerca da demora do dilúvio, “nos últimos dias virão escarnecedores” perguntando “onde está a promessa da sua vinda?” (2Pe 3.3, 4). E não poderíamos justamente concluir que, da mesma forma que Deus foi longânimo com os contemporâneos de Noé, que pereceram no dilúvio (1Pe 3.20), Ele não estaria sendo longânimo com todos os seres humanos, mesmo aqueles que irão perecer, até o dia do retorno de Cristo (2Pe 3.9)? Havendo tantos paralelos entre o dilúvio e o retorno de Cristo, nossa interpretação não é apenas plausível, ela é tanto provável como muito bem fundamentada. Sobre isto o calvinista Millard J. Erickson reconhece:

A paciência de Deus não se limitou a seu relacionamento com Israel. Pedro chega a afirmar (1Pe 3.20) que o dilúvio foi retardado o quanto possível para dar oportunidade de salvação para os que, por fim, foram destruídos. Ao falar do dia vindouro de grande destruição, Pedro também afirma que a segunda vinda custa a chegar por causa da clemência de Deus. Ele não deseja “que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pe 3.9). [8]

Que Deus quer que todos os seres humanos sejam salvos é algo tão evidente em 2Pe 3.9 que Berkhof, conforme observado por Picirilli, [9] acaba sendo traído pelo versículo. Primeiramente ele diz:

As passagens de 1Tm 2.4-6; Hb 2.9; 2Pe 3.9 referem-se à vontade revelada de Deus de que judeus e gentios seriam salvos, mas nada implicam quanto à intenção universal da expiação. Mesmo Moisés Stuart, que crê na expiação universal, admite que, nestes casos, a palavra “todos” não pode ser entendida no sentido universal. [10]

Aqui ele diz que “todos” em 2Pe 3.9 deve ser entendido como “judeus e gentios,” ainda que o contexto não diga absolutamente nada sobre isto. Ele não admite que a passagem esteja falando de todos os homens sem exceção, mas, mais especificamente, dos eleitos entre judeus e gentios. Mas mais adiante em sua Teologia Sistemática, ele diz:

Ele não dá logo fim à vida do pecador, mas lhe dá oportunidade para arrepender-se, tirando com isso qualquer motivo para desculpa e justificando a vindoura manifestação da Sua ira sobre os que persistirem no pecado até o fim. Que Deus age com base neste princípio evidencia-se amplamente em passagens como Is 48.9; Jr 7.23-25; Lc 13.6-9; Rm 2.4; 9.22; 2Pe 3.9.[11]

Contradizendo o que disse anteriormente, Berkhof agora diz que 2Pe 3.9 deve ser entendido como incluindo até mesmo aqueles que “persistirem no pecado até o fim.”

Calvino chega a dizer que “o Senhor adia a sua vinda para que ele possa convidar toda a humanidade ao arrependimento” e que “tão maravilhoso é seu amor pela humanidade que ele quer que todos sejam salvos, e de sua parte está preparado para conceder salvação aos perdidos” para então tornar tudo sem sentido:

Pode-se perguntar aqui: se Deus não quer que ninguém pereça, por que tantos, na verdade, perecem? Minha resposta é que não há menção aqui sobre o decreto secreto de Deus pelo qual os ímpios são condenados à ruína, sendo revelada somente sua misericórdia por meio do evangelho. Aí Deus estende sua mão a todos, mas só segura (de forma a conduzi-los para si) aqueles que ele escolheu antes da fundação do mundo. [12]

Em outras palavras, Calvino está nos dizendo que a vontade revelada de Deus é que todos sejam salvos, mas que, em oposição a esta, há uma vontade secreta, que é que muitos sejam condenados. Mas, como observa Philip Schaff, “uma contradição entre intenção e expressão é fatal à veracidade, que é a fundação da moralidade humana, e deve ser um atributo essencial da Divindade. Um homem que diz o inverso do que pretende é chamado, em linguagem clara, de hipócrita e mentiroso.”[13]

Insatisfeito com a interpretação da grande maioria de seus colegas calvinistas, Anthony Hoekema interpreta corretamente o versículo:

A “demora” alegada é, na verdade, uma evidência da graça divina. O Senhor deseja dar aos seres humanos vivos nesta terra plena oportunidade para arrependimento e salvação; por isso ele ainda não voltou.

Observe particularmente as palavras “não querendo que nenhum pereça.” Alguém poderia ler essas palavras e conceber o seguinte entendimento: “não querendo que nenhum dos eleitos pereça.” Mas isso não é o que Pedro diz; introduzir esse pensamento é contrabandear para dentro do texto algo que não está aí. A forma negativa da declaração não deixa espaço para a possibilidade da exclusão de ninguém: o Senhor não deseja que qualquer pessoa pereça. Segundo essa passagem, é claro o desejo do Senhor de que todos os que ouvem o evangelho se arrependam e se salvem. [14]

Embora fiel ao texto bíblico, Hoekema entra em contradição com o seu Calvinismo. Pois o que significa dizer que Deus deseja a salvação de todos diante da afirmação que Deus escolheu incondicionalmente apenas alguns? Que desejo divino de salvação universal seria este que fica somente na intenção e não se revela na prática, sendo que Deus nega àqueles que quer que sejam salvos aquela graça que unicamente pode levá-los à salvação? Como Deus deseja verdadeiramente a salvação de cada ser humano se restringe a extensão da expiação de Cristo a apenas um grupo de pessoas?

Mas a questão é que, mesmo se fosse possível provar que Pedro restringe a longanimidade de Deus a um grupo de pessoas apenas, o versículo não poderia ser usado contra a afirmação de que Deus é longânimo com todos, tanto porque, como já foi mostrado, há outras passagens que admitem a idéia, quanto porque não se pode negá-la a partir do silêncio do apóstolo. Não é porque se afirma que Deus é longânimo com os que irão finalmente se salvar que Ele não é longânimo com aqueles que irão finalmente se perder.


 


 

[1] R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida, (São Paulo – SP: Editora Cultura Cristã, 1998), p. 185.

[2] John Wesley, Explanatory Notes upon the New Testament, (New York: Eaton & Mains), p. 626.

[3] John Owen, Por Quem Cristo Morreu, (São Paulo: Editora PES, 1996), p. 84.

[4] R. C. Sproul, Eleitos de Deus, (São Paulo – SP: Editora Cultura Cristã, 2002), p. 146

[5] R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida, (São Paulo – SP: Editora Cultura Cristã, 1998), p. 185.

[6] John Murray, The Free Offer of the Gospel.

[7] Gordon H. Clark, I & II Peter (New Jersey: Presbyterian & Reformed, 1980), 2:71.

[8] Millard J. Erickson, Introdução à Teologia Sistemática, (São Paulo – SP: Edições Vida Nova, 2002) p. 125.

[9] Robert E. Picirilli, Grace Faith Free Will, (Nashville – Tennessee: Randall House, 2002), pp. 109 110.

[10] Louis Berkhof, Teologia Sistemática, (Campinas – SP: Luz para o Caminho Publicações, 1994), p. 398.

[11] Ibid., p. 443.

[12] João Calvino, citado em Anthony Hoekema, Salvos pela Graça, 2ª edição revisada (São Paulo – SP: Editora Cultura Cristã, 2002) p. 82.

[13] Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. 7, Capítulo XIV, § 114.

[14] Anthony Hoekema, Salvos pela Graça, 2ª edição revisada (São Paulo – SP: Editora Cultura Cristã, 2002) p. 82.

Fonte: Arminianismo.com